3 Dias En Galicia

Dia 1:

A viagem foi feita quase sem paragens e num ritmo acima do normal, havia pressa.
A saida do Porto fora por volta das 18h e o programa marcava Lcd Soundsystem às 22h30. Com a hora que se perde na fronteira, tinhamos que estar as 21h30 junto ao palco para ver James Murphy e cia. E lá conseguimos!
E ainda bem! Numa setlist um pouco mais curta que o normal devido as contingencias do festival (os concertos tinham todos uma hora, excepto o de Laurent Garnier, que durou hora e meia, as actuações de dj oscilavam entre uma hora e no maximo duas) os Lcd Soundsystem mostraram que são no momento o projecto mais aliciante a trabalhar nas fronteiras entre rock e electronica dancavel. Numa banda que incluia alem dos ja habituais Nancy Whang (membro dos Juan Maclean, tambem da Dfa Records de Murphy) e Pat Mahoney (o senhor que costuma passar discos com James e com o qual divide a responsabilidade do Fabric que ambos gravaram), havia tambem espaço para por exemplo Tyler Pope, membro dos !!!. Uma galeria de notaveis portanto e tambem uma maquina muito bem oleada. Começaram com 'Us Vs. Them' logo rasgadinha. Passaram por 'Drunk Girls' e 'I Can Change' do ultimo album, mas guardaram o melhor para o fim, com a sequencia 'Movement','Yeah'(sempre fenomenal) e 'All My Friends' a levar ao rubro o publico presente, que enchia uma das salas (Sonar Village) , a unica com actividade nesse 1º dia. É o meu terceiro concerto de Lcd, um por album, um por cidade (Porto- Lisboa-Coruna) mas em todos o mesmo denominador de excelencia de banda que ficara para a historia. Murphy diz que este e o ultimo album do projecto, por isso se ainda nao viram, nao percam, vale mesmo a pena. Depois veio um dj espanhol, que nao sendo mau soube obviamente a pouco depois desta avalanche de boa musica. E assim fomos cedinho para o hotel( boa escolha!) que os dias que se seguiam seriam bem mais longos e preenchidos.

Dia 2:

Começou cedo o segundo dia do festival. Eram 19h30 e la estavamos instalados junto ao palco para ver a prestação dos Fuck Buttons, autores do excelente 'Tarot Sport' de 2009. Para eles vai o premio de actuação mais barulhenta do festival, num set continuo , sempre em crescendo. Foi pena ser tão cedo.
Apos umas horas semi-mortas, em que se vagueia pelo recinto do festival, que neste dia tinha ja mais uma sala (Sonar Complex, uma sala com cadeiras, onde decorream algumas actuações interessantes), vimos parte de Matthew Herbert, que pessoalmente me desiludiu com um som demasiado rugoso para o habitual, mas sem resultados interessantes. Mais interessante foi antes Fake Robotique, um projecto espanhol.
A grande expectativa da noite ia para a prestação em formato live, acompanhado de musicos, do produtor e dj consagrado mundialmente, uma lenda da electronica, Laurent Garnier.
Apesar de ja ter ultrapssado e bem os 40 anos Laurent não sofre de abrandamento, bem pelo contrario. Tambem se mantem atento as novas tendencias, como mostram as incursões por terrenos dubstep ou drum and bass que aconteceram durante a prestação. Uma actuação energica que teve pontos altos nos classicos 'Crispy Bacon'e 'Man With The Red Face', este a terminar. Um senhor e ponto final. Referencia ainda aos poucos minutos que vimos do live act de Labrador+P.M.A., projecto portugues que actou no Complex e com boa aceitação de publico.

Dia 3:

Bastante desgastados pela devastação da noite anterior la nos arrastamos para ver a prestação de Flying Lotus, que se iniciava, com a pontualidade que marcou o festival as 20h locais. Flying Lotus deu uma boa prestação, para fazer dançar mais a mente que o corpo. No final chamou um amigo que não entendi o nome para uma sessão, no espirito 'free jazz', palavras do proprio. Nesse segmento ate trechos de 'Idioteque' dos Radiohead se ouviram. Dificil de ouvir, não é para todos, mas é muito bom. Nesta altura iriam actuar os Octa Push, dupla tuga dos terrenos dubstep, mas o cansaço das pernas e o apelo do Carrefour vizinho do recinto do festival, com bebidas a preço mais convidativo (esperemos que os preços festivaleiros espanhois não cheguem a Portugal, 3 euros uma cerveja e 5 uma bebida branca não é nada agradavel) fizeram nos deslocar ate ao exterior para um descanso merecido. 
Voltamos por volta das 22h30, naquela que seria a primeira decisão dificil de fazer para o nosso grupo de 4 festivaleiros. No Sonar Club, palco que se estreava neste dia iriam actuar os Air, no Sonar Village os Delorean. Os primeiros a começar foram os Air e por isso dei-lhes alguns minutos, que não me convençeram. Os ultimos trabalhos da dupla francesa não me entusiasmam e la fui ver Delorean, que para alem de ser o nome do mitico carro do Doc de 'Regresso ao Futuro' é tambem o nome deste creativo projecto espanhol que se move junto das coordenadas de uns Animal Collective, versão mais solarenga e electronica. Deram um belo concerto. Os outros festivaleiros voltaram para junto dos Air, menos convencidos do que eu, relatando que o final do concerto destes teria sido mais engraçado, percorrendo o projecto os seus temas mais conhecidos. 
Havia agora novo intervalo ate às 0h30 em termos de projectos esperados...uma ronda pelas salas e conhecemos um projecto galego de hip-hop com influencias de elctronica e ate blues, com letras que pareciam de caracter leve e divertido...eram os Fluzo. Foram divertidos e fizeram passar o tempo ate aos 2 Many Djs, que rebentaram como de costume. Que o show era de qualidade e eficaz ja se sabia, a novidade a observar eram as projecções que acontecem no palco e que acompanham as musicas que a dupla belga vai propondo à pista de dança. Numa tela no centro, vão aparecendo as capas de discos que a dupla vai pondo, sendo que nestas capas os protagonistas mexem-se e não é pouco. Animações semi-rudimentares mas que resultam em pleno. Ate Bethoveen por la passou...
Infelizmente não pude verificar ate ao fim esta prestação pois havia Hot Chip ás 01h30 para ver no Sonar Village. E que Hot Chip foram estes? Um show efeciente, muito dancavel, focado no seu curto alinhamento os temas de maior sucesso, intercalados por algumas musicas do ultimo 'One Life Stand', ja de 2010. Terminou com 'Ready For The Floor', em grande, mas mostrando que apesar da boa prestação, não é Lcd Soundsystem quem quer, e não tera sido a toa que o melhor album deste grupo ingles teve produção da equipa Dfa, ou seja, James Murphy...Ainda assim gostei bastante de ver, estiveram no top das actuações quanto a mim.
Havia ainda Booka Shade no Sonar Club, em formato live, com bateria fisica e tudo. Começaram logo com 'Darkko' talvez o seu tema mais conhecido e conquistaram a pista de imediato. Assim continuaram num bom ritmo, que apenas o fraquejar das pernas nos obrigou a abandonar...Tinha terminado para nos o Sonar Coruña em ano de Xacobeo. 
Pena neste cartaz não haver, entre outros do irmão alargado de Barcelona, a prestação live de Plastikman, que teria sido a chave de ouro para este excelente festival de electronica. Ainda assim um saldo tremendamente positivo, ainda mais para um bilhete de 3 dias que custava 54 euros, aproximadamente aquilo que se paga por apenas uma noite num Alive ou Super Bock e ate menos do que uma noite no festival de rir ou, se preferirem, rock in rio.

Uma nota final para a alargada cobertura mediatica da morte de Jose Saramago que os media espanhois fizeram. Um sinal de respeito por este grande escritor e esquerdista, que nem sempre foi bem tratado em Portugal. Que o seja agora, que bem fez por o merecer, lutando pela igualdade e direitos e revoltando-se contra as principais forças de repressão ou opressão que actuam na nossa peninsula iberica, vulgo igreja catolica.
Respect.

Comentários

Nuno Baptista disse…
simplesmente fantástico...